Viu a primeira planta na feira, entre legumes. Comprou, botou na janela. Uma alegria viva, porém sozinha.
Na semana seguinte comprou outra. Diferente, mais farta, não ocupava embora todo espaço do peitoril.
Seguidas vezes na feira comprou uma e outra planta. A casa habitava-se, sementes caindo dos vasos, germinando na poeira do chão, flores folhagens cipós estendendo raízes, formigas chegando pelas gretas, mal sobrando espaço para mover-se.
Fez-se primavera entre sala e cozinha. Corria o regato da banheira. Num suspiro, despiu-se, sentou-se na superfície esmaltada. Ao cabo de três dias esbranquiçaram afilados os dedos dos pés. Na manhã seguinte um caroço inchou a perna. Sete dias depois a pele luzidia rompeu-se em verde, primeira folha, enquanto brotos despontavam.
Estonteada em meio a clorofilas recostou a cabeça e adormeceu. O corpo ramejava.
A morada do ser – Marina Colasanti
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