Uma casa chamada Selvática. Cozinha, banheiro, salas. Janelas. Corredores, escadas, vãos. Portas. Lugares delimitados e outros de passagem. Os entres. Entre, entre, entre. Entre imagens. As imagens dançantes como acionamento do fluxo dentrofora, do eu e o outro, do passado, presente, futuro no aqui. Aqui e lá. O jardim, a rua, a sacada, a calçada. Um convite: entre!
Entre, por favor, entre.
Entre, fique à vontade, para estar e para, junto daquele que dança, tentar entender o que é habitar, viver. Fique à vontade para ficar o tempo que quiser, transitar de um lugar a outro e também para mexer por dentro se assim surgir a necessidade. Fique à vontade para perceber sua casa corpo.
Entre e sinta o que ainda é desconhecido pelo artista que dança, e só agora pode ser habitado, porque você, público, está aqui. Tua presença – olho, vísceras, pulso – modifica. Modifica a textura da parede da sala, a água da banheira, a terra do jardim, o escuro do quarto, a temperatura da pele.
IN-REAL é convite para artistas e público continuarem elaborando, sentindo, vivendo. É convite para o prosseguir da descoberta do ilimitado universo dos detalhes. Detalhes do corpo vivo que, porque aberto, é espaço. Espaço móvel que é tempo e se tece das memórias e de tudo o que ainda não foi visto e vivido.
IN-REAL é subversivo porque instaura outras temporalidades e espacialidades como lógica de se fazer dança, tanto em seu processo como na sua relação de apresentação com o público. A lógica do borrar e confundir estão presentes, ampliando, embaralhando, problematizando os sentidos e espaços. Não há como ver sem ser visto, tocar sem ser tocado, escolher sem ser escolhido, observar sem dançar. Dançar sem modificar. Estar sem lembrar.
IN-REAL é sem dúvida a provocação de uma experiência complexa em dança que evoca particularidades emergentes do coletivo. Cada artista move uma dança reverberada do habitar que é junto, no entanto distinto, porque elaborada de maneira peculiar. Juliana, Peter, Yiuki, Bel. O verde do jardim desliza no tule da saia que pousa na banheira que lembra a textura da sacada que recua para o som do quarto escuro que desce a escada e na sala da frente reolha os dizeres e as fotos. IN-REAL, em sua abertura, permite que cada um que lá habita crie seus próprios circuitos.
Gladis Tridapalli, integrante da Entretantas Conexões em Dança
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